Revisão de Literatura – Efeito do Tratamento Osteopático na Disautonomia

Escrito por Dra. Mayara Castro

Introdução

A disautonomia abrange um grupo heterogêneo de condições caracterizadas por disfunções do sistema nervoso autônomo (SNA), como a síndrome da taquicardia postural ortostática (POTS), síncope vasovagal e intolerância ortostática. O manejo convencional inclui medidas não farmacológicas (hidratação, reposição de sal, meias compressivas, recondicionamento físico) e farmacoterapia, mas muitos pacientes permanecem sintomáticos [21]. Nesse contexto, a terapia manual osteopática (OMT) tem sido explorada como abordagem complementar, com técnicas que potencialmente modulam o equilíbrio simpático-parassimpático.

Métodos de busca

Foram incluídos ensaios clínicos, revisões sistemáticas e relatos de caso disponíveis em bases indexadas até 2025, relacionados a “osteopathic treatment”, “autonomic nervous system”, “dysautonomia”, “POTS” e “heart rate variability”.

Evidências experimentais

Ensaios clínicos controlados com adultos saudáveis e indivíduos com queixas musculoesqueléticas demonstram efeitos agudos de técnicas osteopáticas na modulação autonômica, principalmente:

  • Suboccipital release e manipulações cervicais altas: aumento da variabilidade da frequência cardíaca (HRV), com predomínio vagal [3,15].
  • Rib raising: redução do tônus simpático segmentar torácico, refletido em diminuição da frequência cardíaca [5,20].
  • CV4 (compressão do quarto ventrículo): mudanças em FC, condutância cutânea e parâmetros de HRV, sugerindo efeito central sobre o SNA [5,12].

Revisões recentes confirmam consistência nos efeitos fisiológicos imediatos, mas destacam lacunas sobre duração, dose e relevância clínica [4,8,22].

Evidências clínicas em disautonomia

Na POTS e em outras formas de disautonomia, as evidências são limitadas:

  • Relatos de caso sugerem melhora sintomática em fadiga, intolerância ortostática e síncope após OMT [6].
  • Ausência de ensaios clínicos randomizados (RCTs): não existem dados robustos que comprovem benefício sustentado de OMT em disautonomia [21].
  • Revisões enfatizam que, até o momento, o manejo segue fundamentado em medidas convencionais, com OMT sendo considerada apenas como potencial adjuvante [13,21].

Discussão

Os achados sugerem que OMT tem efeito modulador do SNA, mensurável por HRV e parâmetros hemodinâmicos. No entanto:

  • O efeito é imediato e de curta duração nos estudos experimentais.
  • Não há comprovação de eficácia clínica sustentada em pacientes com disautonomia.
  • Estudos futuros devem incluir RCTs, com amostras maiores, desfechos clínicos (intolerância ortostática, síncope, qualidade de vida) e follow-up.

Conclusão

O tratamento osteopático demonstra potencial para modulação autonômica aguda, especialmente pelo aumento da atividade vagal. Contudo, a evidência em disautonomia clínica permanece incipiente e limitada a relatos de caso. Assim, OMT pode ser considerada coadjuvante experimental, sempre integrada ao manejo médico convencional e com monitorização hemodinâmica rigorosa.

Quadro-Resumo – OMT e Disautonomia

AspectoEvidências
População estudadaAdultos saudáveis, indivíduos com dor musculoesquelética; raros relatos de POTS/disautonomia.
Técnicas mais estudadasSuboccipital release, rib raising, CV4.
Desfechos avaliadosVariabilidade da frequência cardíaca (HRV), FC, condutância cutânea, sintomas autonômicos.
Resultados principais↑ modulação vagal, ↓ FC, reequilíbrio autonômico imediato.
Evidência em POTS/disautonomiaMuito baixa – apenas relatos de caso, sem RCTs.
LimitaçõesAmostras pequenas, efeitos de curta duração, falta de ensaios clínicos em disautonomia.
Perspectivas futurasRCTs em POTS/síncope com desfechos clínicos; estudos de dose–resposta e follow-up.

Referências (Vancouver)

  1. Carnevali L, et al. Front Neurosci. 2020.
  2. Cerritelli F, et al. Front Neurosci. 2020.
  3. Budgell BS, et al. Auton Neurosci. 2019.
  4. Rechberger V, et al. J Bodyw Mov Ther. 2019.
  5. Arienti C, et al. Complement Ther Med. 2020.
  6. Howell JN, et al. J Am Osteopath Assoc. 2014.
  7. Stępnik M, et al. Sci Rep. 2024.
  8. Stępnik M, et al. Front Neurol. 2023.
  9. Arienti C, et al. Clin Rehabil. 2020.
  10. Raj SR, et al. Circulation. 2021.
  11. Romitelli F, et al. Sci Rep. 2025.