Comumente, como osteopatas descartamos a importância de compreender os desenhos do estudo, e você realmente pode se questionar:
“Por que preciso saber o que é uma revisão sistemática com meta-análise, ou um ensaio clínico randomizado? O que isso vai me ajudar na prática?”
Nós já falamos sobre a importância de nos atualizarmos dos estudos recentes que demonstram a eficácia das novas técnicas e intervenções para diferentes condições. Mas com as evidências científicas, podemos garantir pontos essenciais para a nossa prática clínica:
- A eficácia do tratamento: na literatura já é documentado, para algumas condições, as melhores técnicas e intervenções para melhorar o quadro clínico do paciente;
- Oferecer segurança aos pacientes: algumas técnicas podem ter risco e os estudos ajudam a identificar quais são seguros;
- Personalizar o tratamento: as evidências ajudam a entender o que funciona para casos específicos como por exemplo, para um paciente idoso a ciência pode recomendar técnicas mais suaves do que as usadas para atletas ou jovens;
- Estar atualizado: a ciência evolui, assim estar atualizado possibilita conhecer novas intervenções que podem otimizar os tratamentos;
- Aumentar a credibilidade profissional: além de saber do que se trata e justificar ao paciente o porquê você usa tal técnica e não a outra, você pode passar uma confiança a outros profissionais da saúde sobre o seu trabalho.
Dessa forma, você já está convencido que estar atualizado é um ótimo ponto para o seu currículo. Agora, você já sabe também como procurar artigos do seu interesse (ver: Por que preciso saber a estratégia PICO, se sou um Osteopata?). Mas depois que você encontra esses artigos, o que fazer com eles?
A primeira coisa que precisamos saber é que há níveis de evidências científicas:
Figura 1: Robustez das evidências científicas baseado no estudo de Guyatt et al. 1992 (1).
É importante ressaltar que, por mais que haja evidências consideradas “mais fracas”, as mesmas têm sua importância para o seu objetivo específico e por isso precisamos compreender bem qual desenho de estudo responde o que e para que serve:
DESENHO/TIPO DO ESTUDO | O QUE RESPONDE? |
---|---|
Revisão Sistemática com Meta-análise | A meta-análise combina resultados de vários estudos diferentes sobre o mesmo tema para chegar a uma conclusão mais robusta e confiável. Responde: Esse tratamento ou intervenção funciona? Exemplo: “A manipulação espinhal realmente reduz dores de cabeça cervicogênicas?” |
Ensaios Clínicos Randomizados e Controlados | É um estudo experimental que comparam grupos de forma controlada e aleatorizada. Responde: Esse tratamento ou intervenção funciona? A diferença é que a revisão é realizada com diversos estudos e o ensaio clínico testa uma intervenção. Exemplo: “Um exercício específico é mais eficaz do que um medicamento para aliviar dores no pescoço?” |
Estudos de Coorte | São estudos que acompanham grupos de pessoas ao longo do tempo. Respondem: O que acontece com um grupo ao longo do tempo? Exemplo: “Pessoas com má postura têm mais chances de desenvolver dor cervical ao longo dos anos?” |
Estudos de Caso-Controle | São estudos que acompanham grupos de pessoas ao longo do tempo. Respondem: O que acontece com um grupo ao longo do tempo? Exemplo: “Pessoas com má postura têm mais chances de desenvolver dor cervical ao longo dos anos?” |
Estudos Transversais | Estudos que avaliam dados de um ponto específico no tempo. Responde: Qual é a prevalência de algo em um momento específico? Exemplo: “Quantas pessoas com mais de 50 anos sofrem de dor na coluna atualmente?” |
Ensaios in vitro, Experimentais em Animais e Séries de Caso | Pesquisas laboratoriais ou análises de pequenos grupos, menos aplicáveis diretamente a humanos. Respondem: Como funciona algo em condições controladas ou em um pequeno grupo? Exemplo: “Como a manipulação afeta a mobilidade articular em ratos?” ou “Quais os efeitos de um tratamento em um paciente específico?” |
Opinião de Especialistas, Relatos de Caso e Cartas ao Editor | Evidências baseadas em observações individuais ou opiniões, com menor rigor científico. Respondem: O que profissionais observam em sua prática ou opinam? Exemplo: “Um osteopata observou que uma técnica específica parecia melhorar dores crônicas em seus pacientes.” |
Para ficar mais fácil de compreender, imagine que estou com um paciente novo e preciso saber se a manipulação torácica pode auxiliar na dor crônica no ombro.
Baseado no que já aprendemos e discutimos por aqui, faria as seguintes etapas:
- Elaboro a estratégia PICO;
- O que recomendo é tentar buscar a revisão sistemática com meta-análise, se não houver evidência desse tipo, procurar um ensaio clínico controlado aleatorizado irá fornecer esses dados, uma vez que ambos os desenhos de estudo respondem: “Esse tratamento ou intervenção funciona?”;
- Seleciono o(s) estudo(s) que encaixa nesses critérios e analiso se ele é bom ou tem déficits consideráveis que impeçam a conclusão adequada dos resultados apresentados.
Nós já sabemos elaborar e estratégia PICO e agora escolher o estudo que responde melhor a pergunta nossa elaborada. Analisar se o artigo é bom ou não, é um fator a ser discutido e com calma, por isso, te encontro aqui em 2025!
REFERÊNCIAS
- Guyatt G. Evidence-Based Medicine: A New Approach to Teaching the Practice of Medicine. JAMA. 4 de novembro de 1992;268(17):2420.