Osteopatia e dores de cabeça: uma abordagem baseada em evidências

Escrito por Dra. Angélica Ferrari: @angelicaferrariv

Se você sofre com dores de cabeça frequentes ou atende pacientes que enfrentam esse problema, sabe como isso pode impactar profundamente a qualidade de vida. Humor, concentração, produtividade e sono são aspectos que facilmente se deterioram diante das crises. Apesar de existirem muitos tratamentos disponíveis, nem sempre eles são eficazes ou livres de efeitos colaterais.

É nesse contexto que a osteopatia se destaca como uma abordagem segura e baseada em evidências. Neste artigo, vamos entender como a osteopatia pode ser uma poderosa aliada no tratamento das dores de cabeça, trazendo benefícios tanto para pacientes quanto para profissionais que buscam alternativas eficazes.

O que causa a dor de cabeça?

As dores de cabeça são um problema muito comum: afetam cerca de 52% da população mundial e representam uma das principais causas de idas ao pronto-socorro e de afastamentos do trabalho (Wang et al., 2023).

Elas podem ser divididas em dois grandes grupos:

  • Primárias: Quando a dor é a própria doença, como na cefaleia tensional (TTH) e na enxaqueca (MH).
  • Secundárias: Quando são sintoma de outra condição, como infecções, hipertensão, problemas cervicais, entre outros.

A cefaleia tensional é o tipo mais frequente, geralmente associada a estresse, má postura, sobrecarga muscular e tensão cervical. Já a enxaqueca é mais comum em mulheres e pode ser acompanhada de náuseas, sensibilidade à luz (fotofobia), sons (fonofobia) e alterações visuais (aura).

Embora medicamentos como anti-inflamatórios (AINEs) e triptanos sejam opções comuns, muitos pacientes relatam efeitos colaterais e resultados insatisfatórios, o que reforça a busca por abordagens complementares como a osteopatia (Wang et al., 2023).

Como a osteopatia ajuda no tratamento das dores de cabeça?

Correção de disfunções musculoesqueléticas

A osteopatia identifica e trata tensões musculares, desalinhamentos posturais e restrições articulares que contribuem para a dor de cabeça. Técnicas como liberação miofascial e manipulação articular promovem o relaxamento muscular, a melhoria da mobilidade e a diminuição da dor (Sharath et al., 2024; Silva et al., 2022).

Modulação do sistema nervoso autônomo

Estudos mostram que o tratamento osteopático estimula a resposta parassimpática, promovendo relaxamento profundo e diminuindo a percepção da dor (Stępnik et al., 2024; Farra et al., 2024). Esse efeito é especialmente útil para pacientes cuja dor está relacionada ao estresse.

Redução da sensibilização central

Em condições como a enxaqueca, o sistema nervoso central se torna hiper-reativo. A osteopatia atua modulando essas vias de dor, reduzindo a hipersensibilidade e, com isso, a frequência e intensidade das crises (Jafari et al., 2024; Byrd et al., 2024).

Melhora do fluxo do líquido cefalorraquidiano

Pesquisas recentes apontam que a osteopatia craniana pode melhorar o fluxo do líquido cefalorraquidiano, reduzindo a pressão intracraniana e o desconforto associado a certas dores de cabeça (Belash & Starostenko, 2023).

Evidências clínicas

Cefaleia tensional

  • Redução significativa da dor e melhora das atividades diárias (Sharath et al., 2024; Cumplido-Trasmonte et al., 2021).
  • Melhora da qualidade do sono, fundamental para o controle da dor crônica (Lima et al., 2020).

Enxaqueca

  • Redução da frequência, duração e severidade das crises (Jafari et al., 2024; Byrd et al., 2024).
  • Diminuição da incapacitação causada pelas crises (Burke et al., 2023; Muñoz-Gómez et al., 2021).

Principais técnicas osteopáticas aplicadas

Tipo de dor de cabeçaTécnicas utilizadasResultados observados
Cefaleia tensionalLiberação miofascial, energia muscular, manipulação cervicalRedução da dor, melhora funcional
EnxaquecaTerapia manual da coluna cervical superior, técnicas cranianasRedução da sensibilização e melhora da qualidade de vida

Dicas práticas para pacientes e profissionais

  • Avalie a postura: Corrigir desalinhamentos posturais pode reduzir a frequência das cefaleias tensionais.
  • Gerencie o estresse: Técnicas de relaxamento e respiração auxiliam o trabalho osteopático.
  • Adote exercícios suaves: Alongamentos cervicais orientados podem potencializar os resultados da osteopatia.
  • Hidrate-se: A desidratação é um gatilho comum para dores de cabeça.
  • Cuide do sono: Rotinas regulares de sono são essenciais para prevenir crises.
  • Pratique exercícios regularmente: A atividade física libera endorfinas, que atuam como analgésicos naturais, além de reduzir a tensão muscular e melhorar a circulação — fatores que contribuem para a diminuição da frequência e intensidade das dores de cabeça.

Conclusão

A osteopatia se mostra uma aliada valiosa no tratamento das dores de cabeça, oferecendo uma abordagem segura e baseada em evidências. Ao corrigir disfunções musculoesqueléticas, modular o sistema nervoso e melhorar o equilíbrio corporal, o tratamento osteopático não apenas alivia as crises, mas também atua na prevenção de novos episódios.

Para os pacientes, representa uma alternativa menos invasiva, segura e bem tolerada, proporcionando alívio sem a dependência de medicamentos. Para os profissionais, amplia as ferramentas terapêuticas de maneira segura e eficaz, permitindo uma abordagem mais integrada e centrada no paciente.

Artigo Scoping Review: https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC9462953/