EFEITOS DAS TÉCNICAS DE MANIPULAÇÃO VISCERAL DO FÍGADO NO TRATAMENTO DE OMBRO DOLOROSO E NOS NÍVEIS PLASMÁTICOS DE FERRITINA
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Atualmente, cerca de um quarto da população mundial possui anemia, tendo como causa primária a deficiência do ferro, o que a torna uma preocupação tanto em países desenvolvidos como em desenvolvimento1. O ferro é um elemento químico fundamental na formação da hemoglobina, bem como de outros componentes. A diversidade de suas funções inclui desde mecanismos celulares oxidativos até transporte de oxigênio nos tecidos2.

As duas fontes principais de aquisição do ferro são a dieta e a reciclagem de hemácias senescentes. O ferro da dieta constitui-se sob duas formas, a orgânica, proveniente da quebra da hemoglobina (Hb) e mioglobina contidas na carne vermelha e a inorgânica ou não heme, que é proveniente de vegetais e grãos3.

A absorção deste íon ocorre no duodeno e no jejuno superior envolvendo várias proteínas2. O fígado, além de ser o principal local para produção de proteínas que mantém a homeostase do ferro, tem importante papel na detecção de mudanças nos requisitos sistêmicos e regulação das concentrações de ferro de forma robusta e rápida, tendo também a capacidade de armazenamento e mobilização do ferro. A absorção é aumentada na deficiência de ferro e reduzida na sobrecarga do mesmo4.

Normalmente, o ferro é eliminado do organismo pelas secreções corpóreas, descamação das células intestinais e epidermais ou sangramento menstrual3 . Sendo assim, a mulher durante a idade reprodutiva tende a perder duas vezes mais ferro que o homem adulto2.

O ferro fica estocado nas células reticuloendoteliais do baço, fígado e medula óssea, nas formas de hemossiderina e ferritina3. A ferritina é uma proteína que contém núcleo férrico4, responsável por armazenar o ferro e proteger o organismo da toxicidade do ferro livre5. Como ferramenta clínica, a ferritina é usada em vários exames de sangue para diagnosticar estados de doenças comuns, como anemia ferropriva quando o nível sérico de ferritina está baixo, e para avaliação das condições de sobrecarga de ferro hereditárias e adquiridas, como a hemocromatose hereditária6. Considera-se que os intervalos de referência para ferritina sérica variam entre laboratórios, entre os quais são estipulados valores normais de 30 a 300 ng/mL para os homens e 10-200 ng /mL

para mulheres; porém amplamente aceito que um soro de ferritina inferior a 12 ng/mL indica o esgotamento das reservas de ferro6.

No presente estudo foi avaliada a manipulação visceral do fígado como forma de tratamento do baixo nível sérico de ferritina e do ombro doloroso. A manipulação visceral, desenvolvida pelo francês Jean-Pierre Barral, fundamenta-se na mobilização de tecidos, fáscias, órgãos e ligamentos, auxiliando nos desequilíbrios estruturais e funcionais em todo o corpo, incluindo musculoesquelético, vascular, respiratório, digestivo, nervoso, urogenital e vasculares7.

De forma geral, todas as técnicas viscerais possuem como objetivo restaurar ou melhorar a mobilidade e motilidade visceral a partir de ações mecânicas e neurorreflexas induzidas pelo método8. Infelizmente, ainda são poucas as pesquisas para apoiar muitas das alegações e afirmações feitas pela osteopatia, sendo uma nova concepção de tratamento voltado para a origem das disfunções9. A manipulação visceral é um tratamento não invasivo que pode gerar impacto sobre o organismo, sendo, portanto de suma importância a avaliação da eficácia dessa terapia9.

As técnicas viscerais de mobilidade do fígado para tratamento de ombro doloroso é um novo método de tratamento e têm sido cada vez mais utilizada. A redução dos sintomas e melhora da amplitude de movimento (ADM) no ombro, nesses casos, advém da mobilização do fígado pela relação existente entre ambos. Essa decorre da transmissão da tensão do fígado para o músculo diafragma e este irá retransmitir esta tensão através das fáscias para a musculatura do ombro8.

Além disso, o tratamento das restrições de mobilidade de uma víscera pode afetar também sua função, otimizando sua atividade metabólica e aumentando o fluxo sanguíneo9. Nesse sentido considerando as funções do fígado, sua manipulação contribui para a melhora da produção da linfa e a bile, e atua na funcionalidade do metabolismo deste, bem como no armazenamento de vitaminas e ferro.

 

Referências

1. Beck K, Conlon C, Kruger R, Coad J. Dietary Determinants of and Possible Solutions to Iron Deficiency for Young Women Living in Industrialized Countries: A Review. Nutrients 2014; 6(9): 3747–3776

2. Tandara L, Salamunic I. Iron metabolism: current facts and future directions. Biochemia Medica. 2012 Oct 15; 22(3): 311–328.

3. Grotto H. Laboratory diagnosis of iron deficiency anemia. Rev. Bras. Hematol. Hemoter. vol.32,2010; 32(Supl. 2):22-28

4. Anderson E, Shah Y. Iron homeostasis in the liver. Compr Physiol.2013;3(1):315-30

5. Koppe T, Doneda D, Sieber M, Paskulin L, Camargo M, Tirelli K, et al. The prognostic value of the serum ferritin in a southern Brazilian cohort of patients with Gaucher disease. Genet. Mol. Bio.2016; 39(1): 30–34

6. Wang W, Knovich M, Coffman L, Torti F, Torti S. Serum Ferritin: Past, Present and Future. Biochim Biophys Acta. 2010;760–769.

7. Webber J. Visceral Manipulation in the Chronic Pain Patient, 2009;1-3.

8. Tozzi P, Bongiorno D, Vitturini C. Low back pain and kidney mobility: local osteopathic fascial manipulation decreases pain perception and improves renal mobility. J Bodyw Mov Ther. 2012; 381–391

9. Haiden N, Pimpel B, Kreissl A, Jilma B, Berger A. Does Visceral Osteopathic Treatment Accelerate Meconium Passage in Very Low Birth Weight Infants?- A Prospective Randomized Controlled Trial Published. PLoS One. 2015; journal.pone.0123530

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