Discutindo o artigo: “Impact of Extremity Manipulation on Postural Sway Characteristics: A Preliminary, Randomized Crossover Study”

(Journal of Manipulative and Physiological Therapeutics 2020;00;1-12)

https://doi.org/10.1016/j.jmpt.2019.02.014

Escrito por Mayra Castro: @mayracastro.fisio

Resumo

Este estudo investigou como manipulações das extremidades superiores e inferiores afetam o controle postural em adultos jovens saudáveis. Foi realizado um ensaio clínico cruzado randomizado, ou seja, cada participante recebeu manipulações tanto das extremidades superiores quanto inferiores. O controle postural foi medido antes e depois das manipulações em duas condições: em pé em um piso estável e em pé em uma prancha de equilíbrio (para desafiar o equilíbrio). Os pesquisadores analisaram medidas tradicionais de equilíbrio (comprimento do passo e amplitude do balanço) e entropia da amostra (SampEn), que avalia a complexidade e regularidade dos padrões de oscilação.

Interpretação

  • Nenhum aumento da oscilação: O estudo descobriu que a manipulação das extremidades não aumentou a quantidade de oscilação postural em nenhuma condição. Isso sugere que as manipulações não impactaram negativamente o equilíbrio.
  • Controle postural melhorado em uma prancha de equilíbrio: A manipulação das extremidades superiores ou inferiores levou a reduções nas medidas tradicionais de controle postural quando os participantes estavam em pé em uma prancha de equilíbrio. Isso indica que a manipulação das extremidades pode melhorar o equilíbrio em condições desafiadoras.
  • Mudanças na organização da oscilação: A manipulação das extremidades inferiores levou a um aumento do SampEn do tronco enquanto em pé no chão, e uma diminuição do SampEn enquanto na prancha de equilíbrio. Isso sugere que a manipulação das extremidades inferiores pode melhorar a organização das oscilações, tornando-a mais adaptável a diferentes demandas de equilíbrio.
  • Efeitos diferentes na organização das oscilações com base no local da manipulação: Na direção mediolateral (plano frontal) na prancha de equilíbrio, a manipulação das extremidades superiores aumentou o SampEn, enquanto a manipulação das extremidades inferiores diminuiu. Isso sugere que as manipulações das extremidades superiores e inferiores podem influenciar a organização da oscilação devido a efeitos diferentes no sistema nervoso.

Segundo autores, a terapia manual e a manipulação espinhal podem alterar a excitabilidade local e distal do motoneurônio (Haavik H, Murphy B.; 2012), resume um conceito fundamental da neurofisiologia aplicada à osteopatia e à terapia manual. Para compreendê-la, é preciso entender alguns termos-chave:

  • Terapia manual e manipulação espinhal:
    • Referem-se a técnicas que envolvem o uso das mãos para aplicar forças controladas em tecidos moles e articulações, especialmente na coluna vertebral.
  • Motoneurônio:
    • É um tipo de neurônio que controla a contração muscular. Existem motoneurônios locais, que inervam músculos próximos à coluna vertebral, e motoneurônios distais, que inervam músculos mais afastados.
  • Excitabilidade:
    • É a capacidade de um neurônio de responder a um estímulo. A excitabilidade aumentada significa que o neurônio está mais propenso a disparar um impulso nervoso, levando à contração muscular.

As técnicas de terapia manual e manipulação espinhal podem influenciar a atividade dos motoneurônios de duas maneiras:

  • Localmente:
    • As técnicas podem afetar os motoneurônios próximos à área manipulada, alterando a tensão muscular e a função articular nessa região.
  • Distalmente:
    • As técnicas também podem ter efeitos em motoneurônios mais distantes, através de conexões neurais que se estendem por toda a medula espinhal. Isso pode explicar como a manipulação da coluna vertebral pode aliviar a dor e melhorar a função em áreas distantes do corpo.

Mecanismos Neurofisiológicos

Os mecanismos pelos quais a terapia manual e a manipulação espinhal alteram a excitabilidade do motoneurônio incluem:

  • Modulação da atividade dos mecanorreceptores:
    • A manipulação tecidual estimula mecanorreceptores, que enviam sinais para a medula espinhal, modulando a atividade dos motoneurônios.
  • Alteração da atividade dos nociceptores:
    • A manipulação pode reduzir a atividade dos nociceptores, que são receptores de dor, diminuindo a excitação dos motoneurônios e aliviando o espasmo muscular.
  • Modulação da atividade do sistema nervoso autônomo:
    • A manipulação pode influenciar o sistema nervoso autônomo, que desempenha um papel na regulação da função muscular e da dor.

Em resumo, a capacidade das técnicas de terapia manual e manipulação espinhal de influenciar a atividade do sistema nervoso, tanto local quanto distalmente, resultando em alterações na função muscular e na percepção da dor.

Perspectiva dos Autores

Os autores sugerem que esta pesquisa poderia ser estendida para estudar idosos, que têm um risco maior de quedas. O estudo fornece evidências preliminares de que a manipulação das extremidades pode ser uma ferramenta útil para melhorar o equilíbrio e reduzir o risco de quedas, porém mais pesquisas são necessárias.

Referências

  1. Malaya, Christopher A et al. “Impact of Extremity Manipulation on Postural Sway Characteristics: A Preliminary, Randomized Crossover Study.” Journal of manipulative and physiological therapeutics vol. 43,5 (2020): 457-468.
  2. Haavik H, Murphy B. The role of spinal manipulation in addressing disordered sensorimotor integration and altered motor control. J Electromyogr Kinesiol. 2012;22(5):768-776.
  3. Christiansen TL, Niazi IK, Holt K, et al. The effects of a single session of spinal manipulation on strength and cortical drive in athletes. Eur J Appl Physiol. 2018;118(4):737-749.
  4. Suter E, McMorland G, Herzog W. Short-term effects of spinal manipulation on H-reflex amplitude in healthy and symptomatic subjects. J Manipulative Physiol Ther. 2005;28 (9):667- 672.