As cicatrizes podem ser formadas por traumas, cirurgias ou queimaduras, pensando na reabilitação voltada para ortopedia, vemos muitas cicatrizes provenientes de cirurgias e temos contato imediato no momento pós-cirurgia com as mesmas, porém no processo inicial de cicatrização não é recomendado a mobilidade brusca desta região.
Quando a derme e a fáscia são afetadas por cicatrizes, essas estruturas são alteradas, sua função e capacidade de interação com o ambiente externo e interno tornam-se diminuídas. A proporção de tais eventos em cada indivíduo depende da vários fatores, como a predisposição genética e idade, mas ainda não são claramente compreendidos.
Em um processo de reabilitação pós-cirúrgico, alguns pontos devem ser observados e tidos como objetivos do tratamento, entre eles o ganho de amplitude de movimento, força e redução da dor e do edema quando o mesmo estiver presente.
Para o pós-cirúrgico, geralmente são adotados protocolos de reabilitação que são empregados aos pacientes que passam pelo mesmo procedimento, porém nem todos tem a mesma evolução, alguns fatores podem influenciar quanto a isso, como sensibilidade a dor, cinesiofobia entre outros.
Considerando a cicatriz um trauma profundo que afeta várias camadas de tecido, é válido considera-la em um processo de reabilitação onde o paciente está com dificuldade na sua evolução, seja qual for sua cirurgia. Para a comprovação do envolvimento da cicatriz na evolução do paciente podemos fazer um teste rápido de inibição da mesma, que denominamos de lifting, dessa forma podemos avaliar se a mesma está ou não influenciando no quadro e, dessa forma, trata-la quando o tempo de cicatrização nos permitir.
CASO CLÍNICO 1
Paciente em reabilitação pós-cirúrgica de fratura diafisária em espiral de úmero, onde foi colocada placa intraóssea para fixação, já apresenta consolidação total, porém não consegue ganhar amplitude de movimento como esperado.
Paciente se queixa de muita dor na região de trapézio e deltoide, apresenta muito medo de mover o braço mesmo sem carga, em consulta médica foi comentada a hipótese de possível aderência pós-cirúrgica.
Na palpação apresenta grande espasmo de deltoide, trapézio e romboides. Ao teste de mobilidade cutânea a região do deltoide apresenta-se sem mobilidade nenhuma, a mobilidade passiva da glenoumeral é limitada. Optou-se por realizar testes de inibição na região de cicatrizes, onde o ponto de maior influencia nos testes de mobilidade foi o destacado na figura abaixo:
O ponto em questão foi tratado com técnicas manuais.
Após a realização da técnica a amplitude de movimento da paciente aumentou consideravelmente instantaneamente, houve redução dos espasmos antes avaliados e a paciente relatou um grande alívio em relação a dor e descreveu como se estivesse com menos 30kg na região de deltoide, a conduta foi mantida e a evolução da paciente é contínua.
CASO CLÍNICO 2
Paciente de pós-operatório de LCA chegou para reabilitação após sete dias de cirurgia já apresentando dificuldade de manter o joelho em extensão total e do ganho de flexão até 90°, após alguns meses de reabilitação sem sucesso foi submetida a novo procedimento cirúrgico para manipulação local e soltura de aderências.
Após o novo procedimento a paciente foi atendida já no dia seguinte ainda no hospital, com exercícios de mobilização passivos. No processo de reabilitação foi encontrada menor resistência nas mobilizações porém a paciente ainda se queixava de dores quando submetida a mobilização e pequena restrição de movimento. Ao teste de lifting na região de cicatriz foi definido como ponto importante a ser trabalhada a cicatriz mostrada na figura a seguir:
O ponto em questão foi tratado com técnicas manuais.
Após o tratamento da região da cicatriz a paciente apresentou imediatamente ganho de ADM total em flexão de joelho com redução da dor na mobilização passiva, apresentando ainda mais facilidade no momento de realizar a extensão, dessa forma foi introduzida na conduta o tratamento da cicatriz em questão para manutenção da ADM e redução do quadro álgico da paciente.