Uma das principais razões de dores na região do ombro é a chamada síndrome do impacto do ombro (também conhecida por síndrome subacromial), podendo ocorrer em todas as idades, e sendo muito comum em idosos e atletas.
É causada pela compressão prolongada gerando inflamação ou degeneração na região estrutural do ombro, afetando principalmente o tendão supraespinhal, tendão do bíceps, a bursa subacromial e articulação acromioclavicular.
ANATOMIA DA REGIÃO DO OMBRO
O membro superior possui uma complexa anatomia, formada por ossos e ligamentos e estando conectado ao tronco pela região do ombro. Os ossos da região do ombro são a clavícula, escápula e úmero. O úmero se articula com a escápula na região proximal e com rádio e ulna, na região distal.
O contorno característico do ombro é dado pelos músculos dessa região, que são o músculo deltóide e músculo trapézio. Além deles, há o grupo muscular denominado manguito rotador, grupo de músculos formado pelo músculo supraespinhal, infraespinhal, redondo menor e subescapular. O manguito rotador tem participação fundamental na síndrome do impacto do ombro. Além dos músculos do grupo do manguito rotador, existem uma série de outros músculos importantes para a execução de movimentos do braço em relação ao ombro, como o músculo elevador da escápula, bíceps braquial, rombóides maior e menor, dentre outros.
SINTOMAS
O principal sintoma relacionado à síndrome do impacto do ombro é a dor persistente , mas outros sintomas podem também estarem associados, como a limitação do movimento, principalmente ao movimento de “coçar a escápula”. O grau de intensidade da dor é variável, dependendo do grau de inflamação apresentado, a dor pode ser espontânea, na realização de algum esforço com o membro ou ao elevar o braço.
FASES CLÍNICAS
Existe uma classificação em fases, conforme o grau de rigidez ou de inflamação apresentado. Nem todos os pacientes apresentam todas essas fases, mas essa classificação clínica ajuda a entender seu desenvolvimento.
– Fase I
Início da patologia, dores que normalmente melhoram com repouso do membro.
– Fase II
Ocorre quando já há inflamação mais persistente, podendo até apresentar fibrose. Há alteração do espaço subacromial e o indivíduo apresenta tendinite do manguito rotador.
– Fase III
Fase mais grave, pode haver presença de microlesões nos músculos do manguito rotador e inclusive lesões ósseas. Nessa fase, pode ser que o paciente necessite de intervenção cirúrgica.
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico da síndrome do impacto do ombro é geralmente feito pelo médico ortopedista ou fisioterapeuta especializado quando o paciente vai em busca de tratamento para um quadro agudo ou frequente de dor crônica. Além da anamnese, são realizados exames físicos no paciente, justamente para observar o grau de comprometimento da articulação.
Exames de imagem também podem ser solicitados. No caso dos exames físicos, são realizados testes de posicionamento do braço, verificando o grau de dor apresentado pelo paciente, bem como a limitação do movimento. Os principais testes realizados são testes funcionais e alguns testes ortopédicos clássicos, como Neer, Jobe entre outros.
Para avaliação da amplitude de movimento, o membro afetado pode ser manipulado e é solicitado ao paciente que realize movimentos específicos, bem como a avaliação da forma muscular, comparando o membro afetado com o membro saudável.
TRATAMENTO
A fisioterapia é uma grande aliada no tratamento, pois com condutas individualizadas, e exercícios específicos que podem ser realizados para ganhar amplitude de movimento, estabilizar a musculatura local e realizar as orientações e preparos necessários.
O fisioterapeuta atua desde a prevenção de lesões no ombro, em lesões já estabelecidas, e até no pós-cirúrgico.
SÍNDROME DO IMPACTO DO OMBRO PRECISA DE CIRURGIA?
Sabemos que grande parte delas não!! Para isso é necessário uma avaliação com um exame físico bem detalhado: nível de dor, grau de incapacidade, perfil do paciente, aspectos biopsicossociais e exame de imagem- graus de lesões/ retração tendínea/ infiltrado gorduroso/ posicionamento da cabeça umeral e etc.
Muitos pacientes com síndrome do impacto do ombro acreditam que a indicação cirúrgica é imediata, mas não é assim. É preciso analisar as condições do paciente, o médico e o fisioterapeuta em conjunto tomarão uma decisão unificada para determinarem de acordo com a disfunção, idade e atividade do paciente uma indicação de tratamento mais assertiva.
A maioria dos pacientes hoje são indicados para um tratamento conservador obtendo grande sucesso terapêutico. A falha no tratamento conservador em alguns casos, num período de 3 a 6 meses, pode vir a necessitar de algum tipo de abordagem cirúrgica.
OSTEOPATIA
O tratamento osteopático é muito recomendado. Uma abordagem biomecânica local e associada com vários segmentos corporais como coluna cervical, coluna torácica, CORE abdominal, cintura pélvica e dinâmica dos membros inferiores se tornam importantes para a busca dos locais de maior e menor mobilidade. pois ele irá atuar principalmente na origem dos sintomas e não somente no local da dor. Não podemos deixar de levar em consideração as condições neurais, vasculares e viscerais (fígado, vesícula biliar, estômago, intestino, pulmão, pleura pulmonar e pericárdio).
A Osteopatia irá buscar todas as possíveis causas, o corpo é visto como um só, ou seja, único e indivisível, todas as estruturas estão funcionando harmonicamente, basta um desequilíbrio para alterar a homeostase, e a patologia pode se instalar.
Lembre-se se esse paciente passou por procedimentos cirúrgicos ou traumas pregressos, isso é fundamental, pois pode interferir em toda dinâmica corporal.
REABILITAÇÃO FUNCIONAL
Para a recuperação da síndrome do impacto é fundamental a reabilitação funcional e estabilização de todas as articulações envolvidas, priorizando assim um gesto de movimento mais equilibrado.
A reabilitação pode intervir diretamente na região do ombro, pois a fraqueza da musculatura como: manguito rotador, trapézio médio, trapézio inferior, latíssimo do dorso, serrátil anterior e alguns músculos espasmados como peitoral menor, trapézio superior, subclávio e músculos cervicais, podem sobrecarregar a região por conta dessa falta de sinergismo do complexo articular do ombro.
Não podemos deixar de abordar os movimentos de tronco associados com o movimento do ombro. Exercícios em cadeia cinética fechada e aberta se tornam fundamentais na reabilitação como também na propriocepção.
A intervenção é realizada desde a prevenção e tratamento de lesões, até o pré e pós cirúrgicos, sendo muito importante durante a fase pré-cirúrgica para a recuperação mais rápida. A introdução dos exercícios é gradual de acordo com cada caso. O processo de reabilitação também deve ser mantido pelo paciente em casa com exercícios leves, sempre indicados pelo fisioterapeuta, até completa reabilitação.
CONCLUSÃO
A síndrome do impacto do ombro é uma patologia que causa dores na região do ombro, devendo ser prevenida, e tratada quando o indivíduo apresentar os sintomas. A fisioterapia tem papel importante tanto no tratamento da lesão em si, até o pré e pós-cirúrgico.
REFERÊNCIAS
- Rocha K, et al. Atualizações sobre a síndrome do impacto do ombro. Brazilian Journal of Health Review. 2022;5.2:6181-95.
- Rodrigues A, et al. Eficácia do tratamento fisioterapêutico na síndrome do impacto do ombro: Estudo de caso. Brazilian Journal of Development.2021;7.5:49746-64.
- Paavola M, et al. “Finnish Subacromial Impingement Arthroscopy Controlled Trial (FIMPACT): a protocol for a randomised trial comparing arthroscopic subacromial decompression and diagnostic arthroscopy (placebo control), with an exercise therapy control, in the treatment of shoulder impingement syndrome.” BMJ open 7.5 (2017): e014087.